quinta-feira, 10 de março de 2011

Chuva de Outono

É Outono!
A chuva persistente,
Miudinha, quente,
Acaricia o chão.
Chuva de Outono,
Tocando meu rosto
Como uma canção!

A chuva que cai
Renova a vida,
Abençoa a terra
Ainda ardente,
Ressequida, quente,
E depois se esvai!

Toca as flores,
Molha suas cores
E pede perdão.
E o vento a assobiar
Vem anunciar
Que já não é Verão!

Remoínhos de folhas
Caíndo no chão,
E a chuva persistente,
Luminosa, quente,
Tocando meu rosto
Como uma canção!

Tricaninha do Mondego

Adormeceu o Mondego
À luz branca do Luar,
Seus sonhos são embalados
Pelo trinar da guitarra
Que à noite vem soluçar!

Os sinos de Santa Clara
Ainda se ouvem vibrar,
Cidade dos estudantes,
De amores, desencantos,
Onde se aprende a amar!

Tricaninha do Mondego
Esse teu jeito de andar,
Faz partir o coração
Desse estudante moreno
Que vai na rua a passar!

E o caloiro atrevido
Que se deixou encantar,
Canta uma serenata,
Traça nos ombros a capa,
Faz a tricana corar!

Estudante de Coimbra,
Parou para ajoelhar,
Estende a capa no chão,
Como manda a tradição,
Deixa a tricana passar!

Mas a bela tricaninha
Não quer o estudante amar.
Triste adormece o Mondego,
No seu leito de sossego,
Adormeceu a chorar!

Natal

A um canto do Mundo.
No lugar mais fundo,
Só há escuridão.

E um olhar de criança,
Que só pede esperança
E um pouco de pão.

A um canto do Mundo
Está uma criança
Implorando paz.

Chamando por mim,
Chamando por ti,
Em choro se desfaz.

São rostos com fome,
Sem história, sem nome,
Filhos de ninguém.

E uma luz tremeu,
Não se acendeu,
Lá longe em Belém.

E no entanto,
Eu queria esperança,
Eu queria luz.

Eu queria Amor,
Neste Santo Natal
Do Menino Jesus.

Por cada criança
Que não tem Natal,
Eu peço perdão.

A um canto do Mundo
No lugar mais fundo,
Do meu coração.

Portugal, minha aguarela

Vermelho,
Verde, amarelo,
As cores do meu País.
Aguarela multicor,
De um País onde o amor,
Se mistura na paleta
Com os sonhos que construí.

O vermelho,
É o sangue Português,
Páginas de Portugal.
É o silêncio das pedras
Que relembram epopeias.
Perturbantes monumentos
Adormecidos ao Sol.

O verde
São os trigais
Do Alentejo sofrido.
O verde é a esperança
De um País que é amor,
Que o povo quer vencedor.
Versos que leio contigo.

O amarelo
É a benção
Que cai sobre o meu País.
Do Sol claro de Verão,
Que traz de novo a sorrir,
Cada emigrante que vem
Refazer seu coração.

Vermelho,
Verde, amarelo,
É a Bandeira Portuguesa
No alto esvoaçando ao vento,
O meu País multicor,
Uma paleta de amor,
Que guardo no pensamento.

S.Francisco de Assis

As fontes cantam
Nesse arco-íris de luz
Que a água tem.
Talvez por milagre de um monge,
Que com vestes pobres e bordão,
Passou por ali em tarde ardente
E a água reluzente, achou por bem,
Agradecer assim em Oração!

Traz o Mundo consigo,
O Amor e a Paz
Apesar de sozinho.
E com ar clemente,
Servindo de abrigo,
Abençoa as gentes
Que vê p´lo caminho!

A uma criança
Que está muito triste,
Soluçando, chorando,
Caída no chão,
Acarinhou-a, sorriu,
Aninhou-a em seus braços,
Deu-lhe sua mão!

A uma ovelhinha
Que estava sozinha,
Distraída, perdida
Entre os ramos da sebe
No meio do campo,
Deixou-a brincar
Com os fios do seu manto!

E até as flores,
Que de noite se fecham
Entre o cinza das pedras
Quando vem o Luar,
Abrem-se sorrindo,
Na sombra florindo
Ao vê-lo passar!

E um passarinho
Vem todos os dias,
Passar no seu caminho
Como por encanto.
Agradecer a vida
Que estava perdida,
Redobrando seu canto!

E pelas ruas de Assis,
Se comenta, se diz:

"É SANTO,  É SANTO" !

Poetisa eu?

Um dia,
Alguém lendo meus versos
A sorrir chamou-me Poetisa.
Não sei se sou.
Fui apenas buscar a minha estrela
E dar a cada verso um sentido.
A estrela mais alta, a mais bela
E escrever com ela o meu destino.

Poetisa eu?
Gostaria, sim, de figurar
Entre Florbela e Pessoa.
Será vaidade minha, ou talvez não,
Se assim tão simples fala o coração.
Que honra eu teria, de ver um livro meu,
Entre os vultos maiores da Poesia.
Mesmo que fosse só, no lugar mais escondido,
De uma moderna ou antiga livraria.

Poetisa eu?
Talvez não importe, tanto faz.
Só quero,
Em cada poema que escrevo,
Tornar mais belo o Mundo,
Penetrar em cada alma até ao fundo.
Trazer de volta a Paz.
Melhorar cada hora de agonia.

Poetisa eu?
Quem sabe,
Se não serei um dia.

Um apelo à vida

Nasceu uma rosa,
Esguia, formosa,
No meio do jardim.

Ergueu-se das flores
Rasteiras do chão
E abriu-se p´ra mim.

O Sol que apareceu
Há pouco no céu,
Vestiu-a de branco.

Desfez o cinzento
Nevoeiro deprimente,
Cobriu-a de encanto.

Uma gota de orvalho,
Tornou-a a mais pura
De todas as flores.

Uma rosa erguida,
De branco vestida,
Entre tantas cores.

E todos os dias
Eu olho essa rosa,
Ali tão perdida.

Um rasgo de amor,
De perdão, de dor,
Um apelo a vida.