quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Exames Nacionais

Chegou o dia,
A hora da verdade
E o João lá vai,
A caminho da Escola
Cheio de ansiedade!

Vai fazer Exames
Que são Nacionais
E vai pensativo,
Pensando consigo
Que assim é demais!

O João vê bem
E torna a rever,
Se tem o seu nome
Nos Exames todos
Que tem que fazer!

É tanto o tremor,
A má disposição,
Que números e letras
Parece que fogem
Do olhar do João!

O João tem frio,
O João tem calor,
Vertigens, tonturas,
Leves calafrios,
Um estranho pavor!

Que fazer então
Se nada ocorre
Na mente turvada?
Só resta lembrar
A matéria dada!

De repente um pio,
Um leve piar,
E o João olha
Na mesma direção
Daquele cantar!

Era o amigo
Da distante manhã
De fim de Verão,
Que levava no bico
A sua canção!

E as ideias afluem,
Nas folhas em branco
O João escreve,
As contas, as letras
E já nada teme!

Incerto o futuro,
Tão perto a vida,
Sempre a ansiedade.
O mundo do trabalho?
Ou a Faculdade?

Nossa Senhora de Maio

Já tocam os sinos,
Na clara manhã
E ouve-se p´los montes
O riso das fontes
E um cheirinho bom
De flores e avelã!

E na capelinha
Da aldeia vizinha
Reza-se a Maria.
Em cada conta
Do terço rosado
Há uma alegria!

Vão as crianças
Colher um raminho
De flores ao campo.
A Nossa Senhora
Depor com carinho
Juntinho ao manto.

Avé Maria
Senhora de Maio,
Tão Cheia de Graça,
Abençoa esta hora
De rosas florindo
Que sobre nós passa!

E em cada conta
Do terço rosado
O perdão se faz.
E em cada conta
Do terço rosado
Se constrói a Paz!

Tocam os sinos
À  Senhora de Maio
Cantando um louvor.
E ouve-se p´los montes
O riso das fontes
Num Hino de Amor!

É tempo de Paz

A manhã encoberta
De névoas dispersas
O Sol já abriu.
Num canteiro escondido
Do jardim florido
Uma flor nasceu.

E uma andorinha
De bico cinzento
Que voa contente
Chamando seu par,
Dá uma nota alegre
No breve passar.

Gosto da manhã
E do ar claro
Que ela me traz.
A  vida é mais pura,
Mais bela, mais sã.
É tempo de Paz.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Os Sinos da Páscoa

Repicam os sinos
Tocando assim:

Dlin, dlão
Dlão, dlin...

Ouve-se ao longe
Seu toque de Graça,
Anunciando a Páscoa
A quem quer que passa.
Por vales e montes,
Aldeias, cidades,
Por vilas e prados.

Dlão, dlin,
Dlin, dlão...

Os sinos da Páscoa
Que bonitos são.
Tocam de alegria
Logo de manhã,
Mal nesce o sol,
Mal nasce o dia.
Melodia calma,
Música sentida
Que refresca a Alma.

Dlin, dlão,
Dlão, dlin...

São os sinos da Paz,
Tocando sem fim,
De Amor, de Louvor
A Nosso Senhor.
Abrindo caminhos
À Humanidade.
Dizem que Jesus
É ressuscitado
E dão nova Vida
A todo o coração.

Dlão, dlin,
Dlin, dlão...

O Barquinho de cortiça

Fiz um barco de cortiça
Deitei-o a navegar,
Rio abaixo partiu
E um menino sorriu
Ao ver o barco dançar!

No barco iam os sonhos
Que ficaram por sonhar.
Tinha mastro, tinha velas,
Tinha cores bem singelas,
O vento levou-o ao mar!

Rio acima, rio abaixo,
Foi o barco ter ao mar
E do mar já não voltou.
Triste o menino ficou
Sem o barco de brincar!

E tristes ficam meus olhos
Por ver seus olhos chorar.
Tão tristes por não ter
Um jeito de não sofrer
De o poder consolar!

Em cada vida há um sonho
Que ficou por realizar.
Vai nesse barco à deriva,
Mesmo de velas partidas
Com o vento a embalar!

Nossa Senhora e o Menino

Maria embala o Menino
Juntinho ao Seu coração
E vai cantando baixinho
Uma bonita canção!

Mas Jesus tão pequenino
E que sono ainda não tem,
Brinca com os fios azuis
Do manto de Sua Mãe!

Nem a canção de embalar
Faz Jesus adormecer,
Maria reza a cantar
Sem saber o que fazer!

Mas, Jesus vê Sua Mãe
Também querendo dormir,
Fecha os olhos, o sono vem,
Adormeceu a sorrir!

Adormece o Menino,
Já pode a Mãe sossegar,
Deita-O bem devagarinho,
Não vá Jesus acordar!

Festas Populares

Descem as moças à rua
Para ir ao bailarico,
Nestas festas populares
Com cheirinho a manjerico!

Santo António casamenteiro
Ninguém pode contestar,
Muitas moçoilas casou
A outras arranjou par!

Dança-se até vir o dia,
Há fogueiras pelo chão,
Mas mais quente é o lume
Que aquece o coração!

Nos vasos de manjerico
Há um verso a ofertar,
Quadras de amor eterno,
Juras de amor ao luar!

E as moças agradecidas
Ao Santinho popular,
Vão depor um manjerico
Em cima do seu Altar!

Santo António abençoa
Esta forma de amar,
E o Menino sorri
Às moças que vão casar!

São João está à espreita,
Falta pouco p´ra chegar,
Novo arraial se enfeita
Nesta festa popular!

E a fechar este mês
Que em Junho é de alegria,
Vem São Pedro ao arraial,
Dança-se até vir o dia!

Revolução do 25 de Abril

De longe eu vim,
Uma flor na mão,
Um cravo vermelho
A florir um canhão.
Não temas por mim
Não há sangue no chão,
Só trago comigo
O diáfano manto
Da revolução!

Há luz no olhar,
Um cravo na mão,
Quebram-se algemas.
O povo a passar,
É a multidão
E no seu ressoar
Abrem-se mil fendas!

Passa a aflição
Despe o povo o manto.
Há um cravo na mão.
A tortura findou.
Ó Pátria não temas,
Cala o teu pranto
Que eu já livre sou!

Choram as pedras à noite...

Choram as pedras à noite até faz pena,
E ninguém entende o porquê dessa aflição,
Será o seu destino, mágoa, dilema,
Ou simplesmente porque têm coração?

Um poente nasce sozinho, abandonado,
Traça um gesto no ar e adormece.
E a noite veste seu manto de brocado,
Enfeitado com fios que a lua tece!

E um enorme vazio, uma solidão,
Penetram no meu olhar, no coração,
Vagueio noite dentro a delirar,

Apenas de ouve o sussurrar do vento,
Um grito de alma perdido, feito lamento,
E as pedras tristemente na sombra a soluçar!

A Rosa

Bom dia - disse-me a rosa
Quando por ela passei no meu jardim.
Vem ver como sou bela e formosa,
Não há no roseiral outra assim!

A madrugada vem só porque existo,
Se o Sol brilha no céu é só por mim,
Pintou-me de um colorido nunca visto,
Minhas pétalas são feitas de cetim!

Não sejas tão tola, tão altiva,
Disse eu rindo muito admirada.
O sol nasce para todos nesta vida
E para todos vem a alva madrugada!

Vê como é esbelto o lírio branco,
De vestes raras, todo ele pureza,
Não é tão perfurmado, no entanto,
Tem muito mais brilho, mais beleza!

Cobre de branco prados e colinas,
Lava a alma de quem por ali passa,
E as suas hastes esguias muito finas,
Têm ao toque do vento a sua graça!

Ficou a rosa em silêncio e pensativa,
Dizes bem, não tenho assim tanta perfeição.
Pelos espinhos que arrasto sou mendiga,
Nas pétalas que desfolho uma ilusão!

Olhos tristes

Olhos tristes,
Como se a chuva
Não caísse no chão
Tão luminosa,
Como se o orvalho
Não cobrisse de seda
Cada rosa.

Olhos tristes,
Como se o sol
Não viesse de manhã
Em cada dia,
Como se as aves
Não voassem nos céus
Com alegria.

Olhos tristes,
Sempre de olhos no chão,
Sem motivo, sem razão,
Como se a vida
Não fosse um bem supremo.

E, eunão sei, não entendo,
O porquê dessa tristeza,
Desse medo.

Sorri!
Um sorriso quero ver
No teu olhar,
Para que também eu sinta
Que vale a pena viver
E acreditar.

Pedi ao mar...

Pedi ao mar para tecer devagarinho
Um lenço todo de renda branca e fina
E o mar admirado, de mansinho,
Fez logo do meu pedido a sua sina!

Pedi também para levar a sua voz
A todos os lugares onde há dor
E às crianças mais pobres e tão sós
Desse o meu lenço de renda com amor!

E muito tristes com o lenço a acenar,
Dizem que nada têm para dar,
Perguntam porque tem que ser assim,

E eu, num rasgo de revolta já sem norte,
Gritei a Deus para mudar a sua sorte
E Deus sorrindo de longe disse: Sim!

Vamos correr Mundo

Vem comigo, vem,
Vamos correr Mundo.
Vamos por essa estrada,
Há quem não tenha nada
E nós temos nos braços
Tanto para dar.
Os sinos tocando,
Anunciam na torre,
Que vamos chegando,
Que vamos passar!

Vamos correr Mundo.
Há tantas crianças
Que nunca sorriram,
Só conhecem a dor.
Vamos até lá,
Nós temos os braços
Tão cheios de amor!

Vamos correr Mundo,
Que há Povos inteiros
Que sofrem opressão
No meio de tortura.
Temos que ir lá,
Se temos nos braços
Um rasgo de loucura!

Vamos correr Mundo.
Há mãos que se levantam
E corpos doentes
Cobertos de sida.
Vamos até lá,
Nós temos os braços
Tão cheios de vida!

Vem comigo, vem,
Tornar o cinzento
Que o Mundo tem
Em tons de mil cores.
Vamos correr Mundo,
Nós temos os braços
Tão cheios de flores!

Vem comigo, vem,
Mesmo que o caminho
Seja pedregoso,
P´ra nós tanto faz.
Será uma honra,
Levarmos nos braços
O Amor e a Paz!

A Seara é enorme
E neste chão dolorido,
Há guerras, há fome
E já não podemos
Ficar só aqui.
Vamos mais além.
Não importa a quem.
Vamos desbravar,
Revolver, semear,
Mesmo até ao fundo!

Vem comigo, vem,
Vamos correr Mundo!

Os Meninos de Angola

Em Angola os meninos
Não jogam à bola
No meio da rua.
Apenas estão sozinhos
Com o céu e a lua!

Tudo o mais partiu
Já era noitinha.
Partiu e não vem,
O voo da andorinha,
O beijo da mãe!

Nem o voo da andorinha,
Nem o beijo da mãe,
Nem o aconchegar
A roupa quentinha
Quando o sono vem!

Nos olhos escuros
Só há mesmo dor,
Nada mais existe,
Chorando, tocando,
A balada mais triste!

Erguidas as mãos
Numa prece aflita
Na berma da estrada,
Pedindo, implorando
Um pouco de nada!

Não podem brincar,
Não jogam à bola.
Há muito que o riso
Deixou o olhar
Dos meninos de Angola!

Procurei a Poesia

Eu queria
Conhecer o Mundo,
Todos os trilhos e veredas bem a fundo
Para poder encontrar a poesia!

Eu queria
Poder ir mais além,
Colher o arco-íris que o céu tem,
Revestir-me da chuva que caía!

Um dia
O sol veio mais cedo,
Penetra entre a folhagem ainda a medo
E oferece e sua luz por companhia!

Coloridas, finas,
As pétalas das flores do caminho.
Tomo nas mãos o sol que veio sozinho,
Bebo nas fontes de água cristalina!

Noite rara e fria,
A que veio esperar-me na estrada,
Com seus véus translúcidos de fada.
Reconheci-a. Era a Poesia!

Passeio ao campo

Vem comigo ao campo passear.
O sol sorri, que bonito tempo faz.
Vamos por esse caminho devagar,
Respirando este perfume de lilás!

Acordaram mesmo agora as mimosas,
Entrelaçadas brincam as violetas,
Agitam-se docemente, graciosas,
Na ânsia de alcançar as borboletas!

Toda a natureza resplandece,
Um pouco além um lírio estremeceu,
Acenam as papoilas meio entontecidas.
           
Silêncio. Cai o dia. Tudo adormece.
Até as estrelas formam lá no céu,
Um alegre cordão de margaridas!

Alentejo

Cheira a feno, ondulam os trigais,
A natureza espera, está cansada.
No chão formam-se rendas de vitrais,
Incrédulas as árvores revoltadas!

Sedenta a planície agoniza, abandonada,
Que Deus esqueceu a terra de ninguém.
Ergo as mãos vazias, o sol abrasa,
Mostrando com altivez o seu desdém!

Passam ceifeiras, cantando meio dolentes,
Cantigas tristes, perturbantes, quentes,
De trágicos lamentos, tanta mágoa,

E afinal são tão pobres no pedir,
Apenas chuva, estrelas a cair,
Pérolas do céu em gotas de água!

Guitarras choram à noite

Traz contigo a guitarra
E vamos à mouraria,
Cantar uma desgarrada
Até alta madrugada,
Cantemos até ser dia!

Pôe o teu vestido preto
E leva o Fado na voz,
P´las vielas a cantar
Com a guitarra a trinar,
Não estaremos tão sós!

Tenho o Destino traçado
Na palma da minha mão,
Assim disse uma cigana
O meu Fado não engana
É triste meu coração!

O rio procura o mar,
Sua sina é procurar.
Eu procuro a minha alma
Nas sombras da noite calma,
Numa guitarra a chorar!

Uma rosa azul

Eu queria uma rosa azul só para mim,
Que as pétalas abrisse ao meu passar,
E que entre as demais rosas do jardim,
Me fizesse recordar o teu olhar!

Azul, como é o azul do céu com essa cor,
Que por ser tão azul até magoa,
Azul como o laço de fita que hoje pus
Quando inquieta por ti esperava à toa!

E entre as rosas que há no meu jardim,
Nasceu uma rosa azul só para mim
A lembrar que é sempre Primavera,

Que importa que a rosa seja uma ilusão,
Um faz de conta, um bem querer no coração,
Se a vida não é mais que uma quimera!

Menino da rua

Menino sozinho
Sem paz nem amor
De um País distante,

Menino da rua,
À sombra da lua,
Ao sol escaldante.

Menino da rua,
Andando por ali
Sem eira nem beira,

Corpito franzino
Que a vida maltrata
Com tanta canseira.

Caminhas assim
Sem rumo, sem fim,
Num mar de aflição,

Pézitos descalços,
Pisando o asfalto
Estendendo a mão.

Vagueando na praia
Na areia dourada
Ao sol de Verão,

E sem pressa no cais
Olhando os barcos
Que vêm e vão.

Calções remendados,
Cabelos desgrenhados,
Na boca um lamento.

Ai! como eu queria
Que fosses só um poema,
Que escrevo, que invento.

Moçoila

Na aldeia os sinos
Chamam às novenas,
No campo as tardes
São calmas, amenas.

E que linda moça
Que vai a passar,
Tem um ar gaiato
No jeito de andar.

Nos pés tamanquinhas
De fino recato,
Nos pés pequeninos
De passo apressado.

As flores do caminho
Falam entre si,
Nunca tinham visto
Uma moça assim.

Abre-se a manhã
Cantam os pardais,
Por ela florescem
Os verdes trigais.

Que linda moçoila
De alma tão pura,
Igual só conheco
O branco da Lua!

Trigo Loiro

Vem ver.
Florescem papoilas nos trigais
Por entre o loiro esguio das espigas,
E há no campo bonitas raparigas,
Entoando melodias divinais!

Vai alto o Sol.
É o Sol do meio dia.
O chão escalda, é uma brasa.
Há cansaço no rosto de quem passa,
Vendo a planície ferver de agonia!

Trigo loiro
Erguendo-se da terra em sofrimento,
Suplicando numa prece um pouco de água.
Só o vento alivia tanta mágoa
E dá a tanta dor um novo alento!

Atentado em Madrid (11 de Março 2004)

7.30h da manhã.
Os mesmos gestos de sempre.
Um dia em tudo tão vulgar.
Mas a sombra da morte,
Rondava por perto,
Já pairava no ar.

E pior que morrer
É não poder,
Olhar frente a frente
O rosto, a mão,
De quem mata friamente
Sem razão.

E sentimos ódio,
Raiva, revolta,
Impotência, terror,
Dor de enlouquecer.
Pior que morrer
É ter que continuar
Inexplicavelmente a viver.

Gente deambulando,
Procurando, procurando cada ausente,
Numa amálgama de ferros e de sangue.
Um calafrio, o olhar vago.
Nesse comboio das 7.30
O desespero de quem tudo perdeu!

Podias ser tu!
Podia ser eu!

Quimera

Inventei um jardim de mil flores,
De mil perfumes, só por fantasia
De ver nos teus olhos a alegria
Por existir um jardim de tantas cores!

Inventei a música mais bela,
De raros poemas de amor sem fim,
E fui buscar o brilho a uma estrela
Para pôr nos teus cabelos de cetim!

E fiquei depois quieta, deslumbrada,
Envolvida na luz que em ti via
Como o nascer de branca alvorada,

Irreal, era um sonho, só quimera,
Versos dispersos que só eu escrevia,
Ao acabar na vida a Primavera!

Mondego

Salta devagar por entre as pedras,
Não perturbes Inês no seu sossego,
As apagadas lendas de outras eras,
Oiço cantar nas águas do Mondego!

Pressinto os passos de Pedro por aí,
Traz nas mãos um livro entraberto
De páginas douradas que eu já li,
Uma História real escrita em verso!

Corre mansinho como um lamento,
Leva contigo o triste pensamento,
Que de Coimbra me vem ao entardecer,

Deixa no entanto ficar a realidade,
De um amor cinzelado em saudade
E que das pedras eu  faço renascer!

Chuva de Outono

Cai de leve
A primeira chuva de Outono.
Miudinha, transparente.
Toca,  devagar, a terra adormecida
Ainda sequiosa e muito quente.

Cai no chão,
Pinta aqui e além pérolas de água,
Entorpecida, muito a medo.
As flores do jardim agradecidas
Trocam entre si breves segredos.

Beija a terra.
É o Outono luminoso a chegar.
A chuva baila pelo chão,
Como cristais cintilantes a adornar
A última valsa deste Verão!

Nau dos Corvos

Rodeada de espuma rendilhada,
Ergue-se a Nau dos Corvos imponente,
Na palidez da tarde recortada,
Num desafio constante ao firmamento!

O mar é uma mancha aveludada
Adornada de safiras e diamantes,
A sombra loira do Sol meio desmaiada,
Traça rútilos lampejos penetrantes!

Tem a seus pés o Mundo, o mar inteiro,
No horizonte devagar passa um veleiro,
Alguém que se vai embora muito triste,

Aqui o mar e a terra se confundem,
E eu deixo que nesse toque me deslumbrem,
Sinto que não estou só, que Deus existe!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Diante de um Altar de lírios

No silêncio o Teu nome eu procuro
E a Tua voz no coração deixo escutar,
E diante deste Altar de lírios puros,
Deponho as minhas penas ao orar!

Trago comigo o Mundo em pedaços,
Saído da paleta cinzenta de um pintor,
Trago todas as mães, os seus cansaços,
Para que seja mais leve a sua dor!

Poeiras de oiro se dispersam nesta hora,
Pelos vitrais o Sol espreita de fora,
Abençoando o meu rosário de martírios,

Quisera, Senhor, que nesta tarde calma,
Se desfolhassem as mil cores da minh' alma
Por caminhos repletos só de lírios!

Procuro Deus

Nas flores do caminho
No chão desmaiadas,
P´los campos floridos
Ou na berma de estradas.

No Sol que aquece
E traz a Primavera,
Nos meus sonhos e versos,
Tristezas, quimeras.

No silêncio das pedras
Dispersas p´los montes,
Nas aves do Céu,
No riso das fontes.

No rochedo imponente
De assombroso desdém,
Na luz do Firmamento
Quando a noite vem

É Deus que procuro,
Foi Deus que encontrei,
Em todas as coisas
Que vi, que amei.

Delírio

Quem me dera ser águia, ser corcel,
Cruzar o Infinito em voos planados,
Correr sem destino, sem atropelo,
Por um campo de aromas variados!

Ser a areia da praia branca e fina
Que por entre os dedos se escoa, se esvai,
Prender o mar azul como em menina,
Na loucura dos sonhos irreais!

Buscar no Sol a luz que alumia,
E na Lua a sombra fugidia,
Gritar que a Paz também se alcança,

Escrever um livro raro, bem sucedido,
Ler um livro de poemas só contigo
E sorrir como sorri uma criança!

Primavera em flor

Cheira a alecrim,
Alfazema, jasmim.
É a Primavera
Voltando por fim,
Que nasce, renasce,
Que já está aí!

O ar é mais puro,
Há pouco choveu,
E da terra abençoada,
Renovada, molhada,
Nascem mil flores
Que o Sol teceu!

Flores amarelinhas,
Lilases, branquinhas,
Espalhadas p'lo chão.
É a natureza
A florir, a sorrir,
De alma e coração!

É a Primavera
Que vem transformar
Tudo em amor.
Amor oferecido,
Que agradeço, bendigo,
Numa simples flor!

A Valsa

Cruzei-me contigo
Na dança que o tempo
Inventou para mim

E o tempo parou
Ao ver-me dançar
Uma valsa assim,

Descalça na areia
Na areia da praia,
Na orla do mar,

Segui os teus passos,
Perdi-me no tempo,
Deixei-me levar,

A luz do luar
Que vinha à praia
Só para brincar,

Entornou sua luz
Ao ver-me feliz
Na areia a dançar,

Do mar entoou
Uma voz de sereia
Doce melodia,

E eu quis dançar
Descalça na areia
Até vir o dia!

O Poeta

Percorreu em silêncio a multidão,
Nos olhos a esperança, um cismar,
A ansiedade e o sonho em suas mãos,
No peito uma amargura, um soluçar!

É um Príncipe no meio de tanta gente,
A voz que se ergue, que os povos guia,
Soltam-se os poemas como uma corrente
De água cristalina e luzidia!

Sobe o clamor, já não é mais dia,
Arrebata o povo, exalta a poesia,
Na madrugada desponta a claridade,

E o povo na praça aclama, se encanta,
E uma voz irrompe, se levanta,
Nos teus versos tocaste a Eternidade!

Beijei o Sol

Beijei o Sol,
Abraçei a terra adormecida,
É a hora embriagante de calor,
Uma febre de dor e de vida.
Sabe bem a água fresca
Que canta nas fontes por amor!

Beijei o Sol,
Como quem quer saber
Se a água que bebo me alivia
Do calor sufocante deste dia.
Flores que se abrem manhã cedo
E me entranham na pele seu querer!

Beijei o Sol,
Como quem beija a poesia,
Como quem chama o mar
Que me traz no seu canto o segredo
Dos versos que escrevo ainda a medo.
Um dia, os possa alguém amar!

Escrever

Escrever é para mim como rezar,
É atingir cá neste Mundo a perfeição,
Desprender-me do chão, poder voar,
E no impossível buscar a emoção!

É ter na vida o maior empenhamento,
É como o abrir perfeito de uma flor
Que pede água e luz humildemente
E tem em cada dia o mesmo ardor!

É inventar versos, quadras, poesias,
Confundir realidades, fantasias,
Tirar ao Sol um raio, a minha chama,

Escrever é como rir à gargalhada,
Como dançar à chuva, a pele molhada,
É como amar a vida inteira quem nos ama!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Bem-vindos!

Bem-vindos ao meu blog!

É com muito gosto que partilho aqui os meus poemas, que tenho vindo a escrever desde 1995.

Convido a ler e a deixar um comentário sobre a minha poesia!